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Drácula

R$42,00

Luis Scafati
Tradutor: Oliveira Lima
Formato: 21,9 x 26,2 cm
108 págs (capa dura)

Categoria:

Descrição

Drácula, do premiado artista plástico e desenhista argentino Luis Scafati (55 pp.), que também responde pelo texto, é um “romance gráfico”, um romance contado em linguagem gráfica ou plástica. Mas apesar de hoje conhecida e consagrada, representando todo um nicho de mercado, essa expressão poucas vezes foi tão adequada. Pois poucas vezes a linguagem das artes plásticas foi usada de maneira tão intensa para traduzir visualmente uma narrativa – e poucas vezes uma narrativa foi tão perfeitamente traduzida em linguagem visual.
Essa intensidade tem dois aspectos principais. De um lado, Scafati é um profundo conhecedor da pintura e do desenho do século XX. Se isso poderia apontar para um mero virtuosismo, na verdade, faz com que linguagens visuais conhecidas de um século de barbárie impregnem a ficção de modo a torná-la “semelhante” às demais barbáries reais. Paradoxalmente, ao receber tanto elementos visuais relacionados a barbáries históricas, as barbáries da narrativa tornam-se mais verossímeis.
Duas das influências mais evidentes da Scafati em Drácula são a pintura pós-cubista e pós-expressionista do inglês Francis Bacon, com seus rostos e corpos deformados por manchas de tinta, e os desenhos do expressionista alemão George Grosz (evidente em figuras como a da página 13). Na disposição do grupo de homens e, principalmente, nas deformações dos traços de seus rostos, o desenho da página 16 evoca diretamente o famoso quadro de Picasso As demoiselles d’Avignon, que deu inicio à revolução cubista. A ironia é que os modelos de Picasso foram prostitutas e, aqui, são alguns sérios “homens de ciência” (conferir abaixo: as três cabeças à direita e atrás são claramente picassianas). Há, também, influência do cinema expressionista, como as deformações inclinantes dos cenários externos de O gabinete do dr. Caligari. A cabeça branca do cavalo do meio na página 20 é claramente inspirada em Guernica. Há ainda um Paul Klee “do lado negro” na página 54, para não falar de algo de Lautrec na página 15. Por fim, tudo se funde e se confunde no domínio do traço, da técnica, do métier mesmo do desenho, evidente, por exemplo, nas linhas magistrais da figura feminina da página 47. Por falar em figura feminina, outra das múltiplas presenças condensadas no negro caleidoscópio visual é Scafati é Guido Mainara, o mestre da sensualidade levemente masoquista, presente na página 9 e na própria página 16, na languidez do corpo observado pelo grupo de homens “picassianos”.
Resta falar do texto. Este reduz a história a um esqueleto dramático, pequenas e secas porções estruturantes da narrativa, quase telegráficas: “Ultimamente lady L. tem um pesadelo que a faz gemer e se revirar no seu leito. Ao despertar, sozinha em um emaranhado de lençóis, se sente abatida. Passa o resto do dia lânguida e sonolenta esperando a noite”. Essa objetividade textual, de um lado, torna a leitura rápida e também tensa, e de outro, evidencia ainda mais o contraste com a exuberância “gótica” da sucessão impactante de imagens. Por fim, a diagramação, dando perfeito destaque tanto às imagens quanto ao texto, equilibra e funde os dois elementos sem comprometer a individualidade de cada linguagem.

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